Tuesday, February 13, 2007

Pós Fevereiro de 2007

A partir de março apresentaremos uma série especial com muitos filmes do cinema comercial italiano dos anos 80. Apontando nossas investigações para vários títulos obscuros, mas não menos sedutores. Ainda teremos filmes filipinos e algumas coisas dos Estados Unidos. Hollywood já fez suas produções B em desertos radioativos, dominados por quadrilhas performáticas.
Muitos desses filmes já foram lançados aqui mesmo no Brasil, por produtoras independentes, com cópias de qualidade duvidosa. Mas essas deficiências técnicas parece que só tornaram os produtos ainda mais românticos e sedutores. Esses diretores nos ofereceram filmes um tanto quanto transgressores, ainda que numa embalagem de ficção científica que às vezes chegou ao ridículo.
Particularmente, nós aqui da Arcádia, cultuamos febrilmente aquelas produções italianas, mais do que qualquer outra. Talvez por que estes italianos, ao copiar desesperadamente os preceitos estéticos e narrativos de Mad Max 2, tenham, sem querer, criado uma cena significante para a história da ficção científica contemporânea. Aos poucos iremos descascando essas cebolas e descobrir como é possível que essas histórias recontadas sejam tão apaixonantes.

Sunday, February 04, 2007

Os Fundamentais


As obsessões continuam: John McTiernan (Predador, Duro de Matar) fez sua estréia com Nomads, de 1985, narrando os dramas de um antropólogo francês que olhou demais para a realidade dos esquimós do Alasca. Lendas urbanas com suas tribos invisíveis se misturam com bruxaria ancestral. Mais uma vez a estética de Mad Max 2, só que agora com colagens góticas.



Como curiosidade, no elenco estavam Pierce Brosnan (ex-007), e Adam Ant – ex-vocalista do grupo inglês Adam And The Ants – contemporâneo de Sex Pistols, The Cure e Siouxsie And The Banshees. Apesar disso, tanto esse filme como a maioria dos pós-apocalípticos pecam por uma total ausência de uma trilha sonora adequada. Isso só veio a ser corrigido mais de uma década depois, com a trilogia Matrix. Mas então é outra história. Ou melhor, realidade.



A selvageria marciana toma conta neste filme do mestre John Carpenter: Ghosts From Mars, de 2001. A película é outro doce psicodélico com figurino new metal, particularmente pelas máscaras do Slipknot. No caso, guerreiros ancestrais saem de cavernas do planeta Marte (você sabe como isso funciona: veja Nomads ou Os Caçadores de Atlântida) e se apresentam com maquiagens pesadas, piercings, e toda a sorte de escarificação dos primitivos modernos. Miscelânea inofensiva, característica dos produtos de ficção científica que adoram trazer violência de histórias em quadrinhos. Além de ser impossível não se divertir com os diálogos de Ice Cube e Natasha Henstridge.

O diretor John Carpenter merece ser relembrado por Scape From New York (1981), ou A Fuga de Nova Iorque, que é tão importante para o cinema sci-fi dos anos 80 quanto Blade Runner. Ainda que não traga as interpretações filosóficas do filme de Ridley Scott, Scape From New York foi decisivo ao colocar Hollywood com muito estilo na onda "dos futuros sombrios". Fundamental.

Cyberpunks Possessões

É interessante notar que durante os anos 80 o cinema comercial italiano produziu um punhado de histórias de ficção científica pós-apocalípiticas, repletas de releituras dos figurinos de Norma Moriceau e dos personagens criados por George Miller para o Mad Max 2. Quase todos ambientados num mundo que sofre as mazelas de um guerra nuclear. Enquanto outros - como Os Caçadores de Atlântida - The Raiders of Atlantis (1983) - eram construídos com fórmulas excêntricas do tipo: 2 amigos mercenários (ex-combatentes do Vietnã) + 1 pesquisadora de povos pré-colombianos + 1 submarino nuclear russo + um punhado de mitos do continente de Atlântida + 1 diretor chamado Ruggero Deodato.
Você pode estar se perguntando o que isso tem haver com Mad Max 2 ou com o Movimento Cyberpunk. Mas já foi anunciado anteriormente que, dependendo do seu nível de imaginário, percepção e predileção pela ficção científica, algumas obras de arte podem apresentar pistas surpreendentes. O italiano Ruggero Deodato recheou seu filme com guerreiros atlantes que pareciam ter saltado dos desertos australianos controlados pelo Lord Humungus e seus Cães de Guerra: máscaras, capacetes, motoqueiros, carros com lanças e carcaças ameaçadoras, arco e flechas entre uma vasta coleção de grosso calibre. Na verdade o propósito do roteiro não é oferecer maiores reflexões. Deodato diverte-se (e a nós também) com uma sucessão de tiros e fugas, onde os heróis não erram nunca. E os vilões não se importam de morrer várias vezes em diferentes cenas do filme!
No Brasil os Caçadores de Atlântida só chegou em VHS, mas existem os DVDs importados com diferentes títulos, cartazes e versões: The Raiders of Atlantis, The Atlantis Interceptors, Atlantis, Atlantis Inferno, The Last Warriors, etc.
Os Caçadores de Atlântida é um filme fácil de ser odiado, graças a sua trama absurda e violência sem sentido. Mas ao apostar numa narrativa influenciada pelos quadrinhos (o líder dos atlantes usa uma máscara de crânio, por exemplo), Ruggero Deodato nos oferece 98 minutos da mais honesta aventura: a população de Miami sendo possuída por espíritos de guerreiros atlantes, com a performance Mad Max 2 é uma pérola da pós-modernidade!

O senhor skull de Atlântida.
Logo abaixo,
os seus cães de guerra.